terça-feira, 7 de outubro de 2008

Bionergética

A Bioenergética pode ter sido a forma encontrada pelo sistema capitalista e burguês, nos planos científico e político, para consumir as inegáveis mas incômodas descobertas de Reich, fazendo desenvolver as terapias corporais complementares despolitizadas de sua natureza e origem antiautoritária.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Sobre saber dizer e ouvir não

Como pude não perceber por tanto tempo que é a mesma coisa?

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Sobre Beatles

Não é que não existam músicas boas que não sejam dos Beatles.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A vida

— Você me conhece? (frase dos mascarados de antigamente.)
— Você me conhece?
— Não conheço não.
— Ah, como fui bela!
Tive grandes olhos,
Que a paixão dos homens
(Estranha paixão!)
Fazia maiores…
Fazia infinitos!
Diz: não me conhece?
— Não conheço não.

— Se eu falava, um mundo
Irreal se abria
À tua visão!
Tu não me escutavas:
Pérfido ficavas
Na noite sem fundo
Do que eu te dizia…
Era a minha fala
Canto e persuasão…
Pois não me conheces?
— Não conheço não.

— Choraste em meus braços..
— Não me lembro não.

— Por mim quantas vezes
O sono perdeste
E ciúmes atrozes
Te despedaçaram!
Por mim quantas vezes
Quase tu mataste,
Quase te mataste,
Quase te mataram!
Agora me fitas
E não me conheces?

— Não conheço não.
Conheço é que a vida
É sonho, ilusão.
Conheço é que a vida,
A vida é traição.

MANUEL BANDEIRA. Mascarada. p. 100–101. In: Meus poemas preferidos. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.

Homem

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão.
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

MANUEL BANDEIRA. O bicho. p. 90. In: Meus poemas preferidos. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.

Vida noves fora zero

Belo belo minha bela
Tenho tudo que não quero
Não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto
Quero quero
Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida
A rosa que floresceu
Sobre a escarpa inacessível
A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco
Quero quero
Quero dar a volta ao mundo
Só num navio de vela
Queroa rever Pernambuco
Quer ver Bagdad e Cusco
Quero quero
Quero o moreno de Estela
Quero a brancura de Elisa
Quero a saliva de Bela
Queros as sardas de Adalgisa
Quero quero tanta coisa
Belo belo
Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero.

MANUEL BANDEIRA. Belo belo. p. 88–89. In: Meus poemas preferidos. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.

Triste de não ter jeito

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau de sebo
Tomarei banhos de mar!
E quanto estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

MANUEL BANDEIRA. Vou-me embora pra Pasárgada. p. 59–60. In: Meus poemas preferidos. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.