— Você me conhece? (frase dos mascarados de antigamente.)
— Você me conhece?
— Não conheço não.
— Ah, como fui bela!
Tive grandes olhos,
Que a paixão dos homens
(Estranha paixão!)
Fazia maiores…
Fazia infinitos!
Diz: não me conhece?
— Não conheço não.— Se eu falava, um mundo
Irreal se abria
À tua visão!
Tu não me escutavas:
Pérfido ficavas
Na noite sem fundo
Do que eu te dizia…
Era a minha fala
Canto e persuasão…
Pois não me conheces?
— Não conheço não.— Choraste em meus braços..
— Não me lembro não.— Por mim quantas vezes
O sono perdeste
E ciúmes atrozes
Te despedaçaram!
Por mim quantas vezes
Quase tu mataste,
Quase te mataste,
Quase te mataram!
Agora me fitas
E não me conheces?— Não conheço não.
Conheço é que a vida
É sonho, ilusão.
Conheço é que a vida,
A vida é traição.
MANUEL BANDEIRA. Mascarada. p. 100–101. In: Meus poemas preferidos. Rio de Janeiro: Ediouro, 2005.
Nenhum comentário:
Postar um comentário