Quando essa velha nave espacial do mundo for um dia a pique
Não haverá iceberg nenhum que o explique… Apenas
Um de nós, em desespero
— como quem se livra de terrível dor de cabeça com uma bala rápida no ouvido —
vai apertar primeiro o botão:
Clic!
Tão simples… E os mais esperto venderão,
A preços populares, arquibancadas na Lua
Ou caríssimos camarotes de luxo
Para que possam todos assistir à nossa ÚLTIMA FUNÇÃO.
O perigo
É que a arquibancada desabe
Ou que a própria Lua venha a cair no caldeirão fervente.
Enquanto isso, Deus, que afinal é clemente,
Põe-se a cogitar na criação, em outro mundo,
De uma nova humanidade
— sem livre-arbítrio —
Principalmente sem livre-arbítrio…
Mas com esse puro instinto animal
Que o homem do botão atribuía apenas às espécies inferiores.
MÁRIO QUINTANA. O homem do botão. p. 79. In: Baú de espantos. p. 76–103. In: Quintana de bolso: Rua dos cataventos & outros poemas. Porto Alegre: L&PM, 2006.
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