Eu que nasci na Era da Fumaça: — trenzinho vagaroso com vagarosas paradas em cada estçãozinha pobre para comprar pastéis pés-de-moleque sonhos — principalmente sonhos! porque as moças da cidade vinham olhar o trem passar: elas suspirando maravilhosas viagens e a gente com um desejo súbito de ali ficar morando sempre… Nisto, o apito da locomotiva e o trem se afastando e o trem arquejando é preciso partir é preciso chegar é preciso partir é preciso chegar… Ah, como esta vida é urgente! … no entanto eu gostava era mesmo de partir… e — até hoje — quando acaso embarco para alguma parte acomodo-me no meu lugar fecho os olhos e sonho: viajar, viajar mas para parte nenhuma… viajar indefinidamente… como uma nave espacial perdida entre as estrelas
MÁRIO QUINTANA. Poema transitório. p. 77–78. In: Baú de espantos. p. 76–103. In: Quintana de bolso: Rua dos cataventos & outros poemas. Porto Alegre: L&PM, 2006.
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